sábado, 15 de outubro de 2011

MELANCOLIA

I

Nubca ouviste, alta noite, um som dorido
Como um eco infiel de teu pensar,
Ir saudoso chorar sobre teu seio,
E murmurar-te cantos de pesar?

Nunca ouviste, no albor, o doce arrulho
Da rolinha que chora amargurada,
Qual lira dedilhada
Em florido sertão? Ou harpa eólia
Pelo tufão tocada?

Nos arroubos celestes de tu`alma
Nubca ouviste um acorde esvaecido,
Pelas verdes palmeiras ciciando
Perpassar merencório entristecido?

Pois ccomo o som dorido, e o vago arrulho
Da pombinha que chora o seu destino,
Desvairada, sem tino; -
É meu triste pensar sonhado o berço
Em que dormiu menino!

II

Eo céu lindo! E a primavera vejo
Sorrir-me tão viçosa e amenizada!
Qual nuvem qu’ é levada
No arrebol da manhã fulgente e belo,
De risos enfeitada!

E a natura trajando as brancas vestes
Do modesto noivado; - em mês d’ abril
Como a flor o sorrir-se entre perfumes: -
Os seus braços me estende, tão gentil!

E o mundo remanseia brandamente,
Qual ondinha ligeira vaporosa
Em seu berço de rosa!
Áureo, belo, gentil! Seduz, fascina!
Imagem caprichosa!

Mas eu tristonha sou, bem como a estrela
Que sozinha cintila n’ alvorada!
A saudade tornou minh’ alma um lírio
Que descora de dor na madrugada!

Júlia da costa – Flores Dispersas 1ª série
Santa Catarina 1867




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